Somente com a persistência dos administradores, não desistindo de suas convicções quando confrontados, e com a perspicácia das pessoas, permitindo-se ver as qualidades do Novo, ainda que alguns desconfortos iniciais se apresentem. Somente assim podemos avançar, melhorar, evoluir.
O trânsito é, de fato, um dos maiores – senão o maior – dos problemas de todas as cidades de médio e grande porte no Brasil. Em cidades antigas o problema se torna ainda mais dramático porque a estrutura viária que existe foi concebida para o tráfego de pedestres e veículos de tração animal, sendo excessivamente estreitas quando usadas por veículos modernos. Em cidades turísticas o problema se agrava também porque sazonalmente a quantidade de pessoas que disputam o mesmo espaço é multiplicada.
Ilhéus é uma cidade de médio porte, antiga e turística. Não é necessário dizer mais para descrever o trânsito, principalmente nos meses da alta estação.
Um dos problemas mais graves encontra-se na praça Cairú. Ali os veículos se amontoam, pois aportam tanto os que chegam pela Rua Maria Quitéria (oriundos do Pontal) quanto da Rua Tiradentes (Centro/Cidade Nova, Av. Itabuna, etc.), quanto da Av. Aurélia Linhares (Term. Urbano, Av. 2 de Julho, etc.).
É simples compreender que, para o trânsito fluir ali, em qualquer instante a quantidade de carros que entra precisa ser igual à quantidade de carros que sai da praça. Como isso não se dá, as filas de automóveis formam tentáculos cada vez mais longos, ultrapassando até a ponte do Pontal, só pra citar um exemplo.
A pergunta mais lógica, então, é a seguinte: porque não se consegue um fluxo de veículos saindo da praça na mesma velocidade do fluxo que entra?
Um observador mais atento vai perceber imediatamente o primeiro motivo: os semáforos. Para que os cruzamentos funcionem, os semáforos precisam interromper o trânsito para que os fluxos de veículos se alternem, bem como para dar a vez aos pedestres. Isso permitirá que todos tenham acesso à praça, mas os obrigará a uma espera, sempre interrompendo o fluxo dos veículos em algum sentido, aumentando o contingente de veículos que estão aguardando a sua vez de entrar na pista que circunda a praça.
Já ouvi uma proposta ousada, que é diminuir o raio da praça Cairú. A princípio essa medida teria efeito: diminuindo o tamanho da praça, aumentar-se-á a largura da faixa de pista e, por conseguinte, mais carros caberão nela a cada instante. Isso diminuirá o engarrafamento. Certo? Errado!
Errado porque uma observação mais atenta também permite ver que um outro problema recorrente na praça são os veículos que estão na faixa interna e desejam tomar a Rua Araújo Pinho ou a Rua Marquês de Paranaguá, que conduz à Av. 2 de Julho e aos estacionamentos de frente para a Baía do Pontal. Esses veículos precisam atrasar o trânsito por alguns segundos enquanto trafegam á frente dos demais, por um longo trecho que corresponde à largura da faixa. Caso, com a diminuição da praça, essa faixa se torne ainda mais larga, o problema na verdade aumentará, pois o espaço e o tempo que cada veículo vai precisar para encontrar sua saída serão ainda maiores.
O problema, então não tem solução? Não é verdade. Tem sim. A solução proposta pela secretaria de trânsito, embora detalhes mereçam ser revistos, ataca o problema exatamente em sua origem. Senão vejamos.
Com a solução proposta, os veículos que chegam da Rua Maria Quitéria não precisam parar em nenhum semáforo. E não precisam mudar de faixa para pegar o caminho, pela Rua José Cândido. Adiante, caso deseje, pode retornar à praça Cairú (pela Rua Eustáquio Bastos) e seguir pela Rua Araújo Pinho ou pela Rua Tiradentes. Da mesma forma, os veículos que chegam pela Tiradentes ou pela Av. Itabuna podem seguir para a Rua Maria Quitéria (rumo ao Pontal) ou seguir e pegar a Rua José Cândido.
Com isso, tornam-se desnecessários os dois principais semáforos, que causam mais atraso no trânsito; o que fica na entrada da Rua Marquês de Paranaguá e, logo adiante, o que fica pouco antes da entrada da Rua Eustáquio Bastos. Mesmo os pedestres ficam livres para cruzar a pista, usando o espaço entre a praça e a calçada que agora não recebe mais nenhum tráfego. Em troca, um semáforo apenas para pedestres terá que ser instalado na rua Eustáquio Bastos.
Com esse arranjo que a prefeitura fez, a praça Cairú não só deixa de ser um entrave no trânsito ilheense como também passa a servir como hub, distribuindo os veículos para as diferentes regiões da cidade.
Parabéns ao secretário de trânsito e à sua equipe pela solução. Brilhante.
Antes que os leitores me interpelem, já que a solução gerou “um Caos” no trânsito, deixem que eu discuta um pouco mais, e mostre, a meu ver, o porquê de o projeto não ter funcionado.
Em primeiro lugar, alguns pontos precisam ser ajustados para que uma modificação dessas funcione. O principal deles é a impressionante falta de educação do motorista Ilheense. As vias Aurélio Linhares e Eustáquio Bastos ficavam coalhadas de veículos estacionados em local proibido. Não há como se fazer fluir o trânsito em nenhuma cidade do mundo se os motoristas param onde desejam, sem nenhum respeito pela legislação e, o que é pior, pelos demais condutores que precisam trafegar pela mesma via.
Isso nos leva ao segundo motivo; Ilhéus precisa urgentemente disciplinar o estacionamento nas vias do centro da cidade. Ocorre que o espaço para estacionamento é pequeno, e muitos veículos param ali durante todo o expediente comercial. Dessa forma, há pouco (ou nenhum, muitas vezes) espaço para que os consumidores possam estacionar seus veículos para ter acesso às lojas do centro. E ainda perguntam por que o comércio de Ilhéus é fraco. Basta tentar estacionar no centro às 11 da manhã, para se ter uma idéia. Acho que é o caso de se implementar uma Zona Azul no centro da cidade.
O terceiro motivo é mais polêmico: faltou insistir. As pessoas normalmente reagem inicialmente mal às mudanças. Daí que os motoristas da cidade, que tiveram que reaprender alguns caminhos depois das mudanças no trânsito, fizeram forte resistência a elas. Não houve tempo para as pessoas perceberem que a mudança era boa. Não houve tempo para as pessoas verem que os ônibus passaram a circular mais rápido. Não deu para perceber que, na medida em que todos aprendessem o novo desenho do tráfego, este fluiria mais rápido e todos seriam beneficiados. Não deu para os comerciantes perceberem que o acesso dos consumidores às lojas ficou mais fácil e isso é ótimo para os negócios. Não deu tempo pra nada. Só para o desconforto inicial que as pessoas sentem frente às mudanças se estabelecer e tomar corpo. Ninguém deu uma chance à idéia. Havia que se resistir às críticas, forçar as pessoas a não seguir uma opinião pré-estabelecida e sim experimentar o novo. Acabariam gostando, tenho certeza.
E aí a prefeitura, aparentemente, desistiu das mudanças. Uma pena.
Pena porque há outras idéias que podem melhorar o trânsito em outros pontos da cidade, mas que provavelmente sofreriam da mesma resistência inicial. Por exemplo, tornar mão única A Av. Aurélio Linhares, sentido Centro-Ponte, e a Rua Maria Quitéria, sentido Ponte-Centro. E também a Ruas 13 de Maio, sentido Lomanto Júnior-Aeroporto e a Rua Barão do Rio Branco, sentido Aeroporto-Lomanto Júnior. Ambos os casos permitiria um fluxo muito maior dos veículos, diminuiria os engarrafamentos e melhoraria o acesso das pessoas aos estabelecimentos do comércio no centro e no Pontal.
Mas não serão efetuadas. Porque para que mudanças assim sejam levadas a cabo é necessário persistência por parte da administração pública e perspicácia por parte das pessoas.
Infelizmente, parece que não há muita persistência e perspicácia na velha e querida Ilhéus.
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