Hoje eu li no Blog do Gusmão uma postagem muito inteligente (pode ser lida aqui), em que ele denuncia o julgamento precoce dos índios como pessoas que estão "aculturadas" na civilização capitalista e, por isso, perdem o direito a reinvindicar direitos usando sua própria cultura como argumento.
Antes de comentar a postagem do Gusmão, deixa eu dizer que, de todas as questões políticas e sociais que atualmente estão em discussão na cidade de Ilhéus, essa demarcação das terras Tupinambás é a que eu, modestamente, considero a mais difícil. Mais à frente retomo o assunto.
Voltando à postagem do Gusmão, eu já ouvi várias vezes esse mesmo julgamento a que ele se refere reproduzido por muitas pessoas em muitas situações diferentes: "Índio que usa Jeans não é mais índio", "Índio jogando futebol? Que índio é esse?", "Índio usando panela e fogão?", etc.
De fato não é um comportamento dos mais tradicionais na cultura indígena usar Jeans, jogar Futebol, usar panela e fogão, tomar remédio industrializado (e que bom que eles tem acesso a vacinas, antibióticos, etc.!), etc. É muito fácil perceber e concordar com isso.
Todavia, ao ouvir isso das pessoas, e havendo a oportunidade, eu gosto de perguntar: "Você toma Coca-Cola?", "Você escuta 'Jonas Brothers'?" (um tipo de Menudo dos tempos modernos), "Você assiste aos filmes de Hollywood?" E depois eu complemento: "Então, assim como os índios não são mais índios, você não é mais brasileiro. E se os índios não teriam direito à demarcação das terras porque 'não são mais índios", você também não tem direito a ser dono da Amazônia porque não é mais brasileiro".
Claro que o argumento é absurdo. Uso apenas para ilustrar a falácia de que as pessoas perdem a sua própria identidade por ter incorporados aspectos culturais diversos.
E aqui eu retomo a discussão. Apesar de, pessoalmente, reconhecer o direito cultural e histórico dos índios às terras que eles pleiteiam, eu não acho essa uma questão simples de se julgar.
Seria simples se houvesse um grupo de pessoas que usurpou as terras indígenas e agora estivéssemos apenas tentando estabelecer a justiça, de devolver o seu a seu dono.
Mas infelizmente não é simples assim. Porque (muitas de) as pessoas que usurparam dos índios não são mais as proprietárias das terras. Outras as adquiriram, de maneiras diferentes (compra, herança, pagamento de dívidas, etc.) com total boa fé. Além disso há toda uma população que está instalada ali há muitas e muitas décadas, e estabeleceram sua própria identidade cultural com a região.
Some a isso o fato de que a demarcação impactará na vida de toda a cidade de Ilhéus e região, e teremos muitas pessoas mais na mesma situação.
Eu reconheço o legítimo direito dos índios. Mas também reconheço o direito de muitas outras pessoas. É por isso que considero essa uma questão de dificílimo julgamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui