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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Porto Sul: a Guerra dos Vídeos

Tá lá no dite do Rabat: de um lado um vídeo promocional do Governo do Estado, fazendo a publicidade informativa sobre o Porto Sul (veja aqui). Muitas informações, a maioria já conhecida, e nada mais. Do outro lado, os vídeos de Pequiá, comunidade que sofre com a má gestão do poder público na relação com mineradoras e siderúrgicas (veja aqui). O material é “requentado” pois já havia sido mostrado no Blog do Gusmão (veja aqui). Fico imaginando se não ha, além das empresas, muita gente se aproveitando das pessoas daquela comunidade. Isso eu não sei. Mas sei que há pouca gente tentando realmente ajudar.

Claro que é um grande momento, e obviamente é a discussão democrática que permeia essa “guerra de vídeos”. São argumentos de parte a parte: de um lado os que mostram as oportunidades que advirão com o Porto Sul. Do outro lado os que temem que as conseqüências sejam nefastas, e que não compensem o investimento.

E no meio de tudo há os que tem interesses diversos: proprietários de terrenos que podem se desvalorizar nas áreas onde será instalado o Porto, alguns donos de Resorts e Hotéis, Empresas de Mineração, Empreiteiras, etc. Esses todos são evidentemente contra ou a favor do projeto, mas não se interessam pelo desenvolvimento econômico, tampouco pelo bem estar das pessoas da região. Interessam-se por motivos bem particulares. Legítimos, evidentemente, já que cada um sabe de si. Mas seguramente não de interesse coletivo.

A nós, cidadãos, cabe seguir o conselho que nos dá Francis Bacon em "Novum Organum": corremos o risco de que nossas preferências e temores influenciem nossas crenças. Para escapar dessas armadilhas, precisamos nos ater ao que pode ser eliciado e experimentado racionalmente.

Agindo dessa forma, por exemplo, podemos ver que o material do governo do estado é uma coleção de informações, todas muito auspiciosas. Mas nenhum dado concreto sobre prazos, cronogramas, orçamentos, etc. Falam que vão desenvolver o projeto com o devido cuidado com o meio ambiente, e com as pessoas da região, mas não dizem como. Trata-se de uma peça publicitária, que cumpre um papel político importante. Mas é só isso. Não traz nenhuma garantia a respeito. Serve para ajudar a convencer de que, em linhas gerais, a idéia do projeto é muito boa. Mas não oferece detalhes suficientes que nos permitam debater com mais profundidade. Isso é realmente preocupante: até agora tudo o que diz respeito ao Porto Sul não passa de promessas e de “Carta de Intenções”. Em tempo: por favor, alguém me esclarece o que é uma “Carta de Intenção”? Que compromisso realmente se assume ao assinar uma “Carta de Intenção”?

Não obstante, os vídeos sobre Pequiá também não são muito mais do que isso: propaganda. Apresentam uma comunidade que está sujeita a níveis além dos limites toleráveis de desrespeito à dignidade humana. Serve como um grande alerta para o que podemos acabar encontrando por aqui, se não tivermos o devido cuidado. Mas não é nada mais do que disso. Há uma alegação implícita, mas nenhuma discussão, sobre o porquê de se ter certeza de que em Ilhéus os resultados serão os mesmos de Pequiá. Aliás, sendo bem autocrítico, não já existem, em Ilhéus, pessoas vivendo em situação tão ruim quanto, ou até pior, do que aquelas famílias de Pequiá? Vítimas do modelo econômico da cidade, baseado no binômio Turismo-Cacau? Visitem os bairros mais pobres e mais afastados e terão uma idéia. É interessante notar que até hoje eu não vi nenhum vídeo sobre essas pessoas. Porque interessa mais denunciar a situação das famílias de Pequiá do que, por exemplo, as do N. Sra. da Vitória?

O importante, porém, é que a discussão está aquecida. Pessoalmente eu considero que a cidade de Ilhéus possui uma economia decadente, e todos os setores da cidade empobrecem a olhos vistos. Nesse sentido a infra-estrutura com Porto, Aeroporto, ZPE, Ferrovia, etc. precisa ser instalada sob intensa vigilância, para que os danos ao Meio Ambiente sejam minimizados e o interesse das pessoas seja preservado. Feito assim, pode ser um alento, uma ruptura com o modelo econômico que há décadas vem gerando resultados cada vez mais tímidos, e está em vias de sucumbir, levando a região junto. Pode ser uma chance de soerguimento da região. Uma oportunidade para as pessoas ganharem a dignidade de um trabalho, a esperança de um futuro.

Mas precisamos nos mexer, e rápido.

Porque o Futuro começa agora.

2 comentários:

  1. É assim mesmo. quando tem alguma coisa que pode ajudar a cidade, vem os interessados no atraso prá atrapalhar tudo.

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  2. O Porto Sul é a única porta de salvação para a região ex-cacaueira. Só os imbecis não vêem isso.

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