Retratos de um modelo econômico falido (Yves Marchand e Romain Meffre)
Uma reflexão baseada em documentação histórica e jornalística, imprescindível às pessoas de Ilhéus nesses dias difíceis: o que resta de uma cidade outrora rica depois de um processo de decadência economica? Onde pode acabar? Aos mais preocupados, recomenda-se calma. Não é o caso, pelo menos ainda, nem de Ilhéus nem de nenhuma cidade da Bahia ou do Brasil, embora Ilhéus vá voltar ao texto alguns parágrafos abaixo.
A cidade em questão é Detroit, nos Estados Unidos. Outrora conhecida como a “Capital do Automóvel”, o que é Detroit hoje?
Algumas informações.
“Detroit é a área metropolitana mais degradada dos EUA. Uma volta por bairros residenciais no centro lembra muito Nova Orleans depois do Katrina - sendo que Detroit não foi varrida por um furacão. Há casas abandonadas por toda parte, e muitas foram ocupadas por viciados em crack. Segundo cálculos da prefeitura, são cerca de 44 mil casas vazias. Muitas foram depenadas por ladrões que vendem os destroços nos ferros-velhos.”. A matéria ainda relata que a prefeitura de Detroit hoje não tem dinheiro sequer para demolir as casas abandonadas. (leia aqui).
“A taxa de pobreza, 28,5%, é a mais alta do país.” (leia aqui).
“Nas duas últimas décadas perdeu 32% de sua população. A indústria automobilística encolheu tanto, em sua área, que a prefeitura ficou sem arrecadação de impostos suficiente para administrar os problemas que restaram. O número de assassinatos cresceu de 33 por 100 000 habitantes em 1970 para 59 por 100 000 em 1991. Detroit não conseguiu atrair novas empresas.” (leia aqui).
“Em março foram 663.000 empregos a menos em quinze meses consecutivos.”. (leia aqui)
O caso de Detroit é impressionante. Já se fala no termo “Detroitificação” para se referir à degradação urbana (leia aqui).
A pergunta que se faz é: como uma das cidades mais ricas do mundo acabou chegando à situação atual, com os piores indicadores econômicos e sociais dos Estados Unidos?
Há mais algumas informações que ajudam a entender.
"Os sinais de fracasso do modelo econômico já estavam ali, mas ninguém queria ver.” (Leia aqui).
“A situação de Detroit já vinha declinando há tempos, mas se agravou desde o ano passado. O primeiro grande golpe veio nos anos 70, com as crises do petróleo. As pessoas começaram a comprar mais carros japoneses, que estavam com uma qualidade melhor - antes tinham má fama - e gastavam menos combustível. Em 1980, veio outra recessão, que de novo derrubou a indústria.” (leia aqui).
Então o resumo da história recente de Detroit da conta de que se tratava de uma cidade muito rica, que baseava sua economia na indústria automobilística. Depois se começou a perceber sinais claros de que as coisas não estavam mais acontecendo como desejável: população decrescente, aumento do desemprego, piora dos indicadores de violência, fechamento de empresas, etc. Os sintomas estavam ali, muito claros. Bastava uma decisão estratégica, mudando os rumos da cidade. Detroit não precisava encontrar um ocaso tão triste.
Um pequeno mosaico com parte de um trabalho fotográfico dos franceses Yves Marchand e Romain Meffre que ilustra a decadência de Detroit pode ser visto acima. Ali retrata-se respectivamente uma casa, que já foi bonita, totalmente abandonada, um Teatro que há anos não tem mais como receber espetáculos, os restos de prédios onde outrora funcionaram empresas e escritórios e o saguão de um grande hotel que não funciona mais desde que os hóspedes pararam de aparecer. Tudo em ruínas, mas mostrando tudo o que aquela cidade já foi um dia. Hoje simplesmente não há como o poder público e os cidadãos que restaram garantir o mínimo funcionamento da estrutura urbana. É o retrato da “detroitificação”. Pode-se ver mais fotos aqui.
O fato concreto, porém, é que o processo que destruiu a “Capital do Automóvel” guarda semelhanças com o que se vê hoje na “Capital do Cacau”. Mas também guarda, felizmente, importantes diferenças.
Ilhéus também está apresentando, como aconteceu em Detroit, os sinais de sua decadência econômica: fechamento de empresas, aumento do desemprego, êxodo populacional, piora da violência e da miséria, incapacidade de investimento do poder público em função da queda da arrecadação.
Talvez estes sejam sinais preocupantes, sintomas percebidos nos primeiros anos do processo que pode leva-la à “detroitificação”. A pior parte é que esse processo não demora muito a ser concluído: basta ver que a riquíssima cidade americana levou menos de 30 anos para liquidar toda a sua imensa infra-estrutura econômica e social.
Mas é importante que se deixe claro: Ilhéus não é Detroit. Porque ao contrário da cidade americana, em que “Os sinais de fracasso do modelo econômico já estavam ali, mas ninguém queria ver” em Ilhéus há inúmeros alarmes disparando, pessoas e organismos alertando para o problema. Além disso, ao contrário do que aconteceu em Detroit, Ilhéus possui uma alternativa ao modelo econômico que se esgota. O Complexo Intermodal, em que pese todos os riscos que precisam ser evitados, considerados e compensados, efetivamente é uma chance concreta reverter esse processo. Isso parece estar ficando cada vez mais claro para governos, empresas e cidadãos. O caminho está traçado, e quiçá será trilhado.
Ilhéus não se “detroitificará”.
Vai estar sempre bem na foto.
Puxa vida! Esse é o maior alerta para todos, ilheenses, vejam onde podemos parar se não tomarmos cuidado!
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