Conversando com algumas pessoas, percebi que certa parcela dos meus interlocutores consideraram um desserviço à comunidade a manifestação dos estudantes na Praça da Prefeitura. Os estudantes exigiam a revogação dos atos do prefeito, um decreto que cassou parte de seus direitos junto ao transporte coletivo público.
De fato, a foto abaixo foi divulgada no site de notícias mais acessado do país, o UOL.
Não obstante, ao contrário de meus interlocutores, eu considero a matéria positiva. Eu acho que é bom para a cidade de Ilhéus ter reconhecida a combatividade de seus estudantes. Numa manifestação extremamente rigorosa e dura, que é a única resposta que merece, dos estudantes, a modificação das regras da meia-passagem.
Mas, não obstante a força demonstrada no protesto, tudo se deu sem nenhuma ocorrência grave de excessos (só de ruído) ou de violência. Livre, autônoma e madura manifestação democrática. A presença da força policial, embora sempre necessária, foi para atuar meramente como observadores.
A manifestação trouxe resultados, já que o prefeito reconsiderou o decreto. Vitória dos estudantes. Vitória, porque não dizer, da cidade. Ilhéus não tem do que se envergonhar nesse caso.
Além do mais, as relações entre as concessionárias de transporte público e as administrações municipais – não é privilégio de Ilhéus - carecem mesmo de certos esclarecimentos. Não é fácil entender, por exemplo, que num cenário em que os custos com salários crescem quase que vegetativamente, e os custos com combustível e manutenção de veículos permanecem praticamente estagnados há vários anos, haja a necessidade de aumentos anuais de tarifa – em alguns casos mais de um aumento por ano.
Uma vez tive a oportunidade de ver a famosa planilha de custos, que é o objeto de estudo determinante do aumento das tarifas: ali os empresários “provam” que seus custos subiram e assim “justificam” o aumento da tarifa.
Tratava-se de algumas folhas de papel ofício com uma série de valores, a maioria abreviados, que para mim não mostrou nenhum significado. Mas efetivamente havia uma seqüência anual (e mensal em outras folhas), sempre crescente, de valores.
Não tenho competência para duvidar do que havia ali na planilha, pois meus conhecimentos em contabilidade vão muito pouco além dos conceitos básicos de partidas dobradas. Mas imediatamente chamou-me à atenção um fato interessante: não havia cotação de preços.
Talvez ali já se tratasse do melhor preço de mercado, mas isso não ficou muito claro. Pareceu que havia um preço único, e uma única condição de aquisição e pagamento dos insumos. Não é tipicamente o comportamento de um mercado competitivo.
Pessoalmente, e particularmente no caso de Ilhéus, acho que o problema do transporte coletivo precisa ser visto numa ótica mais ampla. Em primeiro lugar, não entendo porque ainda não há uma estação de integração na cidade, que poderia funcionar onde hoje está o terminal urbano. Em segundo lugar, é urgente se montar uma região metropolitana com (pelo menos) as cidades de Ilhéus, Itabuna e Uruçuca. Aí se pode planejar linhas intermunicipais, com forte redução de custos e consequentemente melhoria das tarifas.
Tenho certeza que idéias não faltam. Mas tenho também a convicção de que os governos só funcionam sob pressão, mesmo para os pleitos mais elementares. Os estudantes mostraram isso quando fizeram a prefeitura recuar.
Que se pressione então. Mas que se dialogue também.
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